quarta-feira, 28 de março de 2012 - Postado por Kamila Silva às 21:15


Ana ainda não dormia, encarava o teto como se implorasse para que além de concreto e teias de aranha - as quais teria que limpar uma hora ou outra -  também surgisse uma resposta. A razão, sempre tão bela companheira, recriminava como ela podia ter a capacidade de perder o sono, a fome e o controle dos batimentos cardíacos apenas por coisas tolas como um sorriso. Essa não era Ana, rebatia a massa cinzenta, a Ana era a revolucionária de coturnos pretos que mudaria o mundo e não acreditava em romances melosos... Romeu e Julieta era uma sátira aos amores adolescentes, complementava. Tolices, Ô coisa complicada essa que é o coração, rebatia o próprio, adora inventar fantasias que sabe que não existem só para bater mais forte em um único milésimo de segundo.  Devolvia a inspiração perdida na rotina mais programada que os carnês jogados em cima da mesa, mas fazia Ana se entender tão pequena perto da loucura de se viver, de se sentir... de se amar. Amar não era pra Ana, um amor complicado então só tornaria seu desacostumado coração em fragmento, assim como o de sua mãe um dia também o fora. Pensar assim na mulher que lhe dera a vida e partira por amar demais apenas comprimia ainda mais seu coração. Aquele que batia demais segundos atrás, agora compadecia de um medo assustador. - E se eu amar, o que será de mim? - Sua solidão era menos assustadora do que a entrega total do amor e os efeitos que ela podia trazer. Amar não era bom, foi o que tinha aprendido mesmo antes de saber o que era amor. Em verdade, preferia naquele instante nunca saber. Porém as teias de aranha do teto se tornavam graciosas quando ele estava por perto. O que podia fazer? Retiraria elas com um vassoura assim que o sol raiasse, mas até final daquela noite, deixava sentir a sensação desconhecida do coração vibrar em mais um milésimo de segundo.