sexta-feira, 1 de abril de 2011 - Postado por Kamila Silva às 19:10
Aos vinte
Queria poder escrever aquele tipo de crônica tão bem feita que ao lerem pudessem todos os inexistentes leitores se orgulharem de eu ter escrito tal coisa,  e que sentissem e de fato entendessem o que eu queria dizer com aquilo, mas, com plena certeza, não escrevo bem crônicas, ou muitos outros gêneros. E não é só por que a sorridente professora disse isso, mas por que, aos vinte anos, talvez, só talvez, eu tenha brio o suficiente para confessar isto.
E, falando nisso, posso dizer que muitas coisas mudaram também nesse último aniversário. Não pela data em si - uma segunda feira em que se fica mais velha nunca pode ser bom, a propósito, Garfield estava certo quando dizia que segundas feiras em si não são boas – mas, do decorrer dessas duas décadas me senti como uma metamorfose ambulante, e ainda parafraseando Raul Seixas, devo dizer que, desse modo, hoje, eu prefiro. Os problemas que antes me afligiam como se fosse a pior questão do mundo agora soam como besteira infantil; as maiores dores que passei agora cicatrizaram, fazendo que eu apenas sinta saudades e  que um sorriso quase sereno me preencheu essa manhã mesmo sabendo que eu não faço a mínima idéia do que fazer logo em seguida, o que antes me poderia causar crises existenciais palpáveis.
Aprendi que dois anos passados a duras penas de apenas cadernos não são nada perto do que esta por vir; que é inútil dizer que nunca fará algo e que é melhor sofrer por alguém do que apenas estar em um relacionamento por estar, e claro, acima de tudo, aprendi que não há hora exata para nada, ou pelo menos aprendi que assim é que eu quero pensar quando as três da manhã me vêm a cabeça coisas sem sentido.
Percebi que não adianta afirmar ser algo que eu não sou por muito tempo, pois é exaustivo ou que pais não são perfeitos e muito menos super heróis a quem podemos confiar que se preocuparão com nós e não o contrário. Notei que o peso e as medidas sobem e descem, mas que haverão pessoas ao meu lado que não ligarão tanto para isso como poderia achar que se importariam, ou que sempre o maior obstáculo de nós somos nós.
Não sei, mas acho que eu até cheguei a perceber que não adiantou em nada toda vez que fugi, pois sempre aconteceu algo para que eu tivesse que enfrentar aquilo novamente. Menos espíritos e filme de terror, esses eu realmente percebi que não são para mim.
É realmente complicado, mas dei razão a quando me diziam que há amigos e colegas, e que muitos dos que me eram companheiros todas as manhãs me serão plenos desconhecidos em poucos anos e que, acima de tudo, devo agradecer por terem estado naquele momento ali. E claro, dou razão quando minha mãe dizia que muitas coisas eram só fase, e mesmo que eu berrasse naquela época dizendo que não, que aquilo era eu e não se modificaria, posso concluir: sim, foram apenas fases.
Sabe, olhando agora, chegou até me culpar por ter fugido tanto de aniversários, sei que a cada ano que passa fico mais velha, que a data de validade se aproxima e que apenas mais e mais responsabilidades se somam, e sim,  eu ainda as odeio, mas acho que fiquei tanto tempo me recusando a  ver o tempo passar que não mudou nada, enquanto a aceitação faz com que tudo seja mais leve, ou pelo menos, de um menor ângulo.
Observo agora em mim diferenças negativas, mas também algumas tantas positivas que me ensinam a cada dia a me aceitar como sou, mesmo  que isto signifique ser avoada, lunática e artisticamente perturbada. Noto, acima de tudo, que passei por muita coisa, que aprendi mais do que achei que iria aprender e que, no entanto, ainda não sei de nada. Mas, incertamente, aos vinte anos, posso dizer que não é tão ruim assim.